Sérgio Dal Sasso: consultor palestrante administração, empreendedorismo e carreiras

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Organização de empresas de A à Z - Gestão e treinamentos

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sustentabilidade e a mudança cultural das empresas

Fonte: Canal RH
por Lucas Toyama
As atenções do mundo estão voltadas para o Rio de Janeiro, onde acontece a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que marca os 20 anos da ECO 92. Delegações de todas as partes do globo discutem formas de compatibilizar o crescimento econômico ao equilíbrio social e à preservação do meio ambiente.
A estrada, contudo, é tortuosa. Para Victorio Mattarozzi, sócio-diretor da Finanças Sustentáveis, consultoria especializada em desenvolver negócios sustentáveis, o esvaziamento da Conferência é prova inequívoca de que o caminho ainda é longo. “A crise econômica mundial não deveria servir de justificativa para o enfraquecimento da Rio+20”, afirma, destacando que isso que se observa.
Com uma carreira construída no mercado financeiro e detentor de vasta experiência no segmento de sustentabilidade, o executivo, que participa da Rio+20, concedeu entrevista ao CanalRh, na qual discorre sobre o equilíbrio do tripé lucro-sociedade-meio ambiente e aborda o papel das corporações e das lideranças nesse contexto e o que elas, de fato, têm feito – ou não. Confira:
CanalRh: Quais suas impressões até agora em relação à Rio+20?
Victorio Mattarozzi: Sinto um certo esvaziamento da conferência. A crise econômico-financeira mundial não deveria servir de justificativa para o enfraquecimento da Rio+20. No entanto, é o que estamos observando: ausência das principais lideranças políticas mundiais e falta de consenso no documento final da conferência. Isso é um grande engano. Há uma crise ambiental, que não deve ser dissociada da econômico-financeira. Agora, mais do que nunca, seria a hora de buscar uma solução integrada. Adiar a solução da questão ambiental vai provocar uma crise provavelmente maior lá na frente e com custos muito maiores.
CanalRh: Como está o Brasil em relação à questão da sustentabilidade?
Mattarozzi: Apesar de todo o discurso sobre o tema, o Brasil tem muito que avançar na questão. Quando se trata da necessidade de reduzir as emissões de carbono, por exemplo, é preciso que o País seja mais eficaz no combate ao desmatamento e incentive o investimento em eficiência energética, energias renováveis – eólica e solar – e mobilidade urbana. Não são ações isoladas.
CanalRh: A Rio+20 tem também discutido fortemente a questão da água...
Mattarozzi: Sim, e com razão. É necessário investir na preservação dos rios e em saneamento básico. O governo federal anunciou a intenção de aumentar os investimentos, que deveriam ser direcionados para projetos com tecnologias voltadas à baixa emissão de carbono e de menor e mais eficiente uso de recursos naturais.
CanalRh: Quais os principais desafios do Brasil em relação à sustentabilidade?
Mattarozzi: O principal desafio é o combate ao desmatamento e a proteção à nossa imensa biodiversidade. É urgente investir em tecnologias voltadas ao uso sustentável dos ativos ambientais que possam garantir o equilíbrio econômico, social e ambiental do País.
CanalRh: Em que ponto o Brasil ainda engatinha quando o assunto é sustentabilidade?
Mattarozzi: A questão energética é um gargalo. O País ainda engatinha no uso de energia eólica e solar. Mais recentemente tem se observado um avanço nos empreendimentos de geração eólica, mas a matriz ainda é pouco representativa. Há muito que avançar na produção com menor consumo de energia.
CanalRh: E em qual ponto o País pode ser considerado referência?
Mattarozzi: O Brasil vendeu para o mundo o carro flex e pretendia tornar o etanol uma commodity. Entretanto, devido a uma distorção dos preços internos da gasolina, a produção e o uso do etanol estão sendo desestimulados. O que poderia ser considerado um exemplo está ficando para trás.
CanalRh: No mundo corporativo, a sustentabilidade saiu do papel?
Mattarozzi: Para algumas poucas empresas eu diria que sim. Para a grande maioria, principalmente médias e pequenas empresas, nem sequer está no papel. Então, as empresas nas quais a sustentabilidade já faz parte das estratégicas de negócios precisariam, por exemplo, compartilhar suas experiências e práticas de gestão socioambiental com outras organizações. As associações e federações de empresas também deveriam atuar no sentido de disseminar essas práticas, demonstrando o quanto sustentabilidade pode gerar valor e novas oportunidades de negócios.
CanalRh: Se o pensamento sustentável de alguma forma existe, por que tantos problemas resultantes da ação equivocada do homem ainda persistem e ganham intensidade?
Mattarozzi: Porque ninguém quer pagar a conta. Veja agora, durante as negociações da Rio+20, mais uma vez os países mais ricos não querem bancar um fundo destinado ao meio ambiente. Por seu lado, os países emergentes não querem assumir a responsabilidade de reduzir suas emissões de carbono. E nós todos não queremos abrir mão de consumir por consumir. Trata-se da necessidade de uma mudança cultural e de reconhecermos que os recursos do planeta são finitos e que, ao adiarmos a solução da questão ambiental, estamos adiando uma crise ainda mais grave e com custos inimagináveis.
CanalRh: O que significa, exatamente, o conceito de negócios sustentáveis? Ainda persiste a ideia de que ser sustentável significa imprimir poucos documentos e colocar o monitor em descanso quando não utilizado?
Mattarozzi: Negócios sustentáveis são mais do que isso, mas têm uma definição simples: produzir ou prestar um serviço levando em consideração os aspectos econômicos, sociais e ambientais. É fazer negócios dentro do conceito conhecido como Tripple Bottom Line (TBL): profit, people and planet (lucro, pessoas e planeta). As empresas precisam inovar, deixar de pensar somente no curto prazo e ter uma visão de perenidade dos seus negócios. Quem não tiver essa visão vai perder mercado ou vai ser engolido pelas empresas que desde já praticam o conceito do TBL.
CanalRh: Qual a principal demanda das empresas que te procuram para estruturar negócios sustentáveis?
Mattarozzi: Independentemente do estágio que cada empresa está no tocante à incorporação da sustentabilidade à estratégia de negócios, a principal demanda é relativa à mudança cultural. Isso significa inserir ou reforçar a sustentabilidade no DNA das empresas e quebrar eventuais resistências internas quanto a essa decisão estratégica.
CanalRh: Quais as dificuldades que as companhias enfrentam para serem sustentáveis?
Mattarozzi: É justamente promover uma mudança na cultura da empresa. É fazer com que todos os seus colaboradores e demais stakeholders estejam conscientes e engajados na realização de negócios com sustentabilidade. É preciso quebrar o tabu de que não basta ter lucro e pensar somente no curto prazo.
CanalRh: O que é uma liderança sustentável?
Mattarozzi: Liderança sustentável é um agente da transformação capaz de promover a mudança cultural. Um líder sustentável tem sempre em mente o seu legado: a herança que deixará para o futuro da empresa, da sociedade e das próximas gerações.
CanalRh: As novas gerações de executivos estão chegando ao mercado com mais consciência em relação à sustentabilidade?
Mattarozzi: Por iniciativa própria, alguns executivos das novas gerações têm mais consciência em relação à sustentabilidade. Esses têm um diferencial em relação à maioria dos executivos que chega ao mercado ainda com o conceito do business segundo o paradigma vigente.
CanalRh: Então as instituições de ensino não incorporaram a sustentabilidade de fato?
Mattarozzi: Incorporaram de forma relativa. O mundo acadêmico também precisa passar por uma mudança cultural. Isso está começando em algumas escolas de negócios, mas é necessário avançar muito. O desafio é semelhante ao que ocorre nas empresas.

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