Sérgio Dal Sasso: consultor palestrante administração, empreendedorismo e carreiras

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Organização de empresas de A à Z - Gestão e treinamentos

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Lideranças sustentáveis

Fonte: Canal RH
Autor da reportagem: Ana Paula Martins
 
Em entrevista ao CanalRh, Voltolini destaca o papel estratégico dos líderes na disseminação do conceito de sustentabilidade, pois são eles quem têm poder e influência para inserir a questão no cerne das companhias. Também destaca transformações importantes que já podem ser percebidas no mercado brasileiro, como o exemplo da Natura, que condicionou a remuneração variável de seus executivos a resultados sociais e ambientais. “ Atitudes como essa revelam o grau de engajamento da empresa e dá um recado de coerência, mostrando que ali o lucro não é tudo”, diz. Acompanhe a íntegra da entrevista:
CanalRh: O que é uma liderança sustentável?
Ricardo Voltolini: São líderes que possuem valores nos quais acreditam e praticam conceitos de sustentabilidade como ética, respeito ao outro, ao meio ambiente e à diversidade. São pessoas que sabem da importância da interdependência, equilibram aspectos financeiros, sociais e ambientais, enxergam oportunidades, têm coragem para realizar complexas mudanças ambientais e capacidade para criar sinergia entre as pessoas e o meio ambiente.

CanalRh: Qual o papel dessas lideranças para ajudar a companhia a ser sustentável?
Voltolini: O papel é central, uma vez que têm poder e influência para inserir a questão no planejamento estratégico da empresa.

CanalRh: Quais os principais erros cometidos pelas lideranças no tocante à sustentabilidade?
Voltolini: Sem dúvida é tratar a sustentabilidade como um tema de menor importância, pontual, e não inseri-lo na estratégia da empresa. É como se a questão ficasse na epiderme e não na corrente sanguínea da companhia. Muitas vezes, o próprio líder não acredita no conceito que está tentando disseminar.

CanalRh: Elas [as lideranças] não acreditam ou não têm conhecimento necessário para enxergar a importância da questão?
Voltolini: É a ausência de crença aliada à desinformação. O que acontece é que a maior parte desses líderes aprendeu a gerir negócios em um tempo no qual esses valores não eram tão importantes. Assim, eles continuam trabalhando no conceito segundo o qual permanecem focados em gerar resultados em curto prazo para mostrar aos acionistas e, por mais que afirmem serem sustentáveis, não enxergam, de fato, o impacto que essas questões trarão para a organização.

CanalRh: Quais as principais dificuldades que as lideranças enfrentam e enfrentarão em relação à sustentabilidade?
Voltolini: A principal delas é mudar a operação da lógica dos custos do negócio. Ou seja, o líder precisa entender que não pode mais tomar decisões com base apenas no impacto financeiro, o que muda completamente a cultura de fazer negócio. Sustentabilidade pressupõe mudanças de comportamento e de atitudes, mas as pessoas preferem ficar na zona de conforto. Há ainda as dificuldades de adesão dos colaboradores, de fazer com que eles entendam o conceito. Só assim a sustentabilidade sai da esfera do discurso e entra no cotidiano da organização.

CanalRh: Qual é o grande desafio das lideranças sustentáveis?
Voltolini: Rever valores. Se antes o líder só falava, agora ele terá que aprender a escutar mais do que falar. Se antes tomava decisões em seu negócio sem levar em conta os impactos que causarão à comunidade e ao meio ambiente, a tendências é que ele, cada vez mais, precise aprender a mudar essa postura.

CanalRh: A sustentabilidade tem, de fato, saído do papel ou ainda permanece em estágio mais teórico do que prático?
Voltolini: Em boa parte das organizações ela tem saído do papel, sim, ainda que em passos lentos. É preciso levar em conta que algumas empresas possuem negócios que permitem mudanças mais rápidas, diferente de outras (como mineradoras e petroleiras), cujo negócio depende diretamente de recursos naturais. Não adianta achar que essas companhias vão mudar em um, dois anos. Em alguns setores, até pela complexidade da natureza do negócio, essa mudança será mais lenta.

CanalRh: Quais as mudanças mais relevantes para as empresas que já seguiram no caminho da sustentabilidade?
Voltolini: Estão acontecendo transformações muito importantes. Algumas organizações têm condicionado sua remuneração variável a resultados sociais e ambientais. A Natura, por exemplo, que é hoje um modelo de empresa sustentável reconhecido internacionalmente, aderiu a essa prática e, ano passado, como não cumpriu as metas ambientais a que tinha se proposto, nenhum dos seus líderes recebeu bônus, nem mesmo o presidente da companhia. Atitudes como essa revelam o grau de engajamento da empresa e dá um recado de coerência, mostrando que ali o lucro não é tudo.

CanalRh: Por que se fala tanto no viés ambiental da sustentabilidade, e tão pouco sobre o aspecto social do tema?
Voltolini: Esse movimento de pensar a sustentabilidade além das questões ambientais é bastante recente. Essa mudança de consciência ainda vai levar um tempo, o que é natural.

CanalRh: Existe, de fato, empresas e cenários sustentáveis, sem pessoas sustentáveis?
Voltolini: De forma alguma. Quando comecei a trabalhar, há 25 anos, meu primeiro empregador me chamou para conversar e disse que o meu problema era que eu tinha muitos valores. Ele então recomendou que eu os deixasse lá fora porque a empresa tinha suas próprias regras. Hoje sou pago para dizer aos estagiários e trainees que os seus valores são muito importantes para a companhia e que caso eles não sejam bem vistos, recomendar: “Mude! Essa companhia não é para você!”.

CanalRh: Esse jovens, futuros líderes, estão mais abertos à sustentabilidade e têm mais facilidade para pensar e agir segundo esses preceitos?
Voltolini: Acredito que sim. Esses jovens já nasceram em um tempo em que os próprios estudos científicos mostram que a vida no planeta corre perigo e, por conta disso, estão mais atentos a questões ambientais e a valores como transparência. Eles já vêm com um “software” desse novo tempo.

CanalRh: O Brasil é destaque em algum caminho?
Voltolini: No que tange à liderança estamos muito avançados. Em eventos internacionais nos quais nossos líderes participam, normalmente eles causam um impacto enorme na plateia. Esse cenário certamente foi incentivado pelo fato de essa elite ter aprendido a fazer negócios em uma sociedade com uma enorme desigualdade social e com um Estado que foi ausente por muito tempo. Isso contribuiu para a formação de lideranças muito mais sensíveis, já que não é possível ser próspero em um país miserável.

CanalRh: E o País precisa “importar” alguma tendência?
Voltolini: Em alguns aspectos como o desenvolvimento de energias limpas temos muito a aprender com os alemães e os escandinavos.
 
Palestrante Sérgio Dal Sasso
www.sergiodalsasso.com.br (Serviços Consultivos)
www.nodepano.com.br (Atividade Industrial)
 

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