Sérgio Dal Sasso: consultor palestrante administração, empreendedorismo e carreiras

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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O poder da transparência

Fonte: Canal RH
Autores: Lucas Toyama e Ana Paula Martins


A Petrobras deu esta semana um exemplo raro de transparência e de governança no mundo corporativo. Ainda mais se tratando de uma estatal. Ao vir a público justificar o primeiro prejuízo trimestral em 13 anos, a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, surpreendeu o mercado, e ganhou como recompensa a sua confiança, estancando a queda das ações. O episódio mostrou que empresas que primam pela verdade e pelo comprometimento, além do manual de boas práticas, ganham reconhecimento. “Em 12 anos de mercado financeiro nunca vi a Petrobras ser tão honesta quanto foi desta vez”, afirma o economista e sócio da Legan Asset Management Fausto Gouveia.
A declaração resume bem o sentimento de boa parte do mercado financeiro na segunda-feira, após ouvir a presidente da estatal explicar de forma clara os motivos que levaram a companhia a um prejuízo de R$ 1,34 bilhão no segundo trimestre. O ineditismo começou pela própria participação da executiva na conferência realizada com investidores, analistas e jornalistas, normalmente capitaneada pelo pessoal das áreas Financeira e de Relações com Investidores. “Tradicionalmente, a CEO não viria apresentar, mas não poderia deixar de explicar, juntamente com os diretores, o resultado negativo", justificou ela na ocasião.
O prejuízo da Petrobras foi tão grande que era importante a presidente da companhia falar, precisava desse “reforço”, diz Gouveia. O professor Samy Dana, da escola de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), destaca que a questão da transparência é cada dia mais incentivada na Bolsa de Valores. “Os investidores esperam esse tipo de compromisso das empresas”, afirma.
Muito discurso e pouco prática
Ricardo Balistiero, professor do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, também acredita que o comportamento transparente adotado pela Petrobras – endossado e liderado por Graça – foi fundamental para estancar a queda das ações e dar tranquilidade ao mercado. A atitude, destaca, ganha ainda mais importância quando se analisam alguns casos nos quais empresas tiveram a postura oposta. “Se pegarmos a pouca ou nenhuma transparência dos balanços de empresas que foram o motor da crise econômica de 2008, ou, mais recentemente, o que aconteceu com o banco Panamericano, percebemos que, a despeito de ser muito discutida, a transparência nem sempre sai do papel”, destaca Balistiero. “No mundo corporativo atual, não falar a verdade é muito grave. Se a companhia tiver ações negociadas em bolsa, além de grave torna-se crime”, alerta.
O professor enxerga a atitude de Graça como “elogiável” dos pontos de vista administrativo e gerencial. Mais do que isso, ela foi corajosa. “Não podemos esquecer que a Petrobras é uma empresa pública e que, ao apontar erros cometidos em gestões anteriores, ela fez uma crítica indireta ao ex-presidente Lula”, diz.
E foi justamente essa coragem e correção de identificar equívocos e ir a público falar isso que aliviou um desgaste maior da organização. “A partir do momento que assumiu erros, afirmou que eles serão reparados e ressaltou que eles não prejudicarão a empresa no longo prazo, a presidente deixou claro que a Petrobras está sob uma gestão técnica, e não política, o que, sem dúvida, é muito importante para os investidores”, completa.
Prever uma reação do público, mesmo diante de boas notícias, é uma tarefa praticamente impossível de ser cumprida, lembra Josmar Bignotto, coordenador da Comissão de Recursos Humanos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Já vi executivos transmitirem notícias muito boas e obterem reações pouco positivas ou até mesmo negativas da plateia”, afirma. Por isso, a forma com que o porta-voz se pronuncia e a forma pela qual transmite o fato têm um grande peso nessa leitura. “Se o ouvinte percebe transparência e confiança na fala, as chances de encarar a notícia como positiva aumenta substancialmente”, completa.
De acordo com Bignotto, em situações como a enfrentada pela Petrobras é essencial que o porta-voz se pronuncie de forma natural e verdadeira e saiba reconhecer erros, atitude que, segundo o especialista, demonstra sinceridade e grandeza tanto da pessoa que está falando, quanto da empresa que ela representa. “Muitos executivos deixam de reconhecer erros por medo de demonstrar fraqueza”, afirma. “Assumir que os equívocos existem e que a empresa está trabalhando para contorná-lo, demonstra grandeza e, normalmente, possui um impacto bastante positivo”, finaliza.
*colaborou Sueli Campo

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