Sérgio Dal Sasso: consultor palestrante administração, empreendedorismo e carreiras

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Organização de empresas de A à Z - Gestão e treinamentos

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mundo Corporativo: Tubarões Juniores

Fonte: Canal RH
Autor: Julio Caldeira


O Perfil dos Valores dos Brasileiros (PVB), realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), levantou quais as maiores preocupações que rondam a cabeça dos brasileiros, representados por 4 mil entrevistados em todo o País. Os tipos motivacionais propostos como parte da metodologia do estudo – entre eles benevolência, conformidade, tradição, segurança, poder, realização, hedonismo, estimulação, autodeterminação e universalismo – teriam de ser classificados com uma nota, de um a dez, que corresponderia a sua importância na vida de cada um. A boa notícia foi constatar que a benevolência – entendida na pesquisa como “honestidade, sinceridade, disposição de perdoar aos outros, ajuda, não-rancoroso, amizade, responsabilidade e lealdade” – recebeu nota 8,8; enquanto que o e o universalismo – compreendido como “tolerância, igualdade, proteção ao meio-ambiente, justiça social, mente aberta, harmonia interior, preocupação com os mais fracos, não à guerra e aos conflitos, e sabedoria” – tirou 8,5.

No entanto, quando divididos por gênero e faixas etárias, os diferentes grupos apresentaram suas particularidades. Uma delas está relacionada aos homens mais jovens que, diferentemente das mulheres e das pessoas mais velhas, são, segundo a pesquisa, “os menos autotranscendentes, isto é, são os indivíduos para os quais os valores de benevolência e universalismo importam menos nas suas vidas.”

Diante desse resultado, o Canal Rh fez a seguinte pergunta: Por que a maioria dos cargos de liderança e gestão é ocupada por homens jovens se, segundo mostrou a pesquisa do PNUD, são eles os que tendem a pôr seus objetivos pessoais (autopromoção) na frente do bem-estar geral (universalismo)? Procurados pela reportagem, psicólogos e especialistas em administração de empresas analisaram essa relação.

Egotrip juvenil

O primeiro aspecto levantado foi que, talvez, o ponto de reflexão não diga respeito às prioridades dos jovens – independentemente do gênero –, mas sim o imediatismo da juventude ocupando posições, no mundo corporativo, onde deveriam prevalecer a experiência e a sabedoria. “Dos 21 aos 35 anos, mais ou menos, o jovem está num momento em que a sua personalidade precisa se pôr no mundo”, analisa a psicóloga Andréa Mele de Mello Peixoto, consultora empresarial e professora da Escola de Negócios e Direito da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. “As perguntas que o indivíduo se faz nesse período são: ‘Como eu vivencio o mundo?’ ‘Como eu organizo o mundo?’ Isso é esperado para essa faixa etária. Daí a busca por esse prazer egoísta, por apreender a viver em si mesmo.”

A especialista acrescenta ainda que, no caso dos rapazes, essas características ganham contornos ainda mais fortes. “Eu entendo que exista uma predominância masculina [entre os que citaram a autopromoção na pesquisa] porque isso é próprio do masculino”, afirma. “A força é viril. O arquétipo masculino é usar a força. E, embora algumas mulheres acolham também esse perfil, ele não é próprio delas. E, em minha opinião, [quando fazem isso] elas acabam perdendo que têm de melhor, ou seja, o feminino, o jogo de cintura, a flexibilidade e a composição, no lugar da reação.”

Preço alto

De acordo com a visão da psicóloga, o gerente de Marketing e Produtos da Lewa Bombas Ltda. – multinacional alemã fabricante de bombas hidráulicas – Anderson Cruz, 27 anos, está em consonância com seu momento de vida. Embora não se considere exatamente um individualista, o jovem confessa que sua principal preocupação no momento é alcançar uma condição melhor de vida em termos financeiros. “Não que eu abra mão de questões como família ou até mesmo de temas ligados à responsabilidade social, como o meio ambiente”, explica o rapaz. “Mas meu foco é na construção de uma base sólida para um futuro melhor para mim e para as pessoas que me cercam.” Solteiro e dividindo seu tempo entre o trabalho e os estudos, Anderson conta que não sobra muito espaço na agenda para incluir o mundo no seu rol de preocupações. “Eu trabalho de 10 a 12 horas por dia e depois vou para a pós-graduação à noite. E estou nesse ritmo desde a época da faculdade.”

No entanto, para o coaching e professor da escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV) João Baptista Brandão, é preciso cuidado antes de optar pelo futuro em detrimento do presente. “Daqui a dez, 15 anos, a fatura chega”, alerta Brandão. “Ou seja: coisas como a depressão, o uso de drogas, enfim, aquele executivo que está com a vida arrebentada.” O professor conta que costuma ouvir de alunos alunos planos de trabalhar incessantemente agora a fim de ter tempo no futuro. “Eu perguntei para um deles: Ter tempo para quê?”, conta o professor. “Ele me respondeu: Para cuidar da minha namorada, para ter filhos. Eu lhe disse que naquela altura ele não teria mais a namorada para ter os filhos.”

Rinha de galo

Segundo Brandão, porém, o furacão individualista no qual o homem se vê nessa fase da vida pode não ser exatamente uma escolha. “O que essa pesquisa pode estar sinalizando é que o jovem, o homem jovem, está falando que busca autopromoção, mas isso não quer dizer que ele não tenha outras demandas”, avalia. “É que essas, num ambiente corporativo, parecem revelar características desse jovem que não são muito valorizadas lá dentro.” Para o professor, é como se às vezes uma empresa contratasse “somente uma ou duas facetas de uma pessoa”, diz referindo-se a características como um perfil competitivo e uma agenda permanentemente disponível. “E com o resto ela que se vire, deixe lá fora”, comenta. “Logo, para se adaptar, ele passa por esse funil e mostra só que a empresa quer.”

Seria preciso, então, ficar alerta ao fato de que essa “geração da autopromoção” tem ocupado cada vez mais os cargos de liderança ou aos modelos de gestão das organizações, que acabam criando esses tubarões? “O grande problema é que as empresas estão transformando o jovem em líder”, responde professor. “E aí está o equívoco. Ele ainda não tem tempo nem preparo suficientes para isso. E eu vejo que as consequências disso são perigosas, porque essas pessoas passam a ser cobradas a apresentarem resultados de curto prazo. De modo que é difícil imaginar que, nesse ambiente, sejam contempladas coisas como alegria e compartilhamento.”

Brandão dá como exemplo, uma situação que ele considera caricata. “A empresa diz para o seu gerente que ele precisa dar mais retorno para sua equipe. Mas, na verdade, essa mesma empresa não o remunera por isso, e sim pelas metas atingidas. E depois de atingir uma, ele continua cobrado para continuar.”

A psicóloga acrescenta: “As empresas estão extremamente competitivas. Costumo dizer aos alunos que elas trouxeram para suas dependências a rinha de galo: só termina quando um vence – só que para isso o outro tem de morrer.” Segundo Andréa, sendo assim, “como um gestor consegue pensar no outro [numa outra pessoa] – ou seja, cuidar, confiar, desenvolver – se a todo o momento ele sofre uma pressão descabida para gerar um lucro que não tem fim?”.

Poder e controle

Thiago Fernandes, de 28 anos, gerente de Gestão e Planejamento do Instituto Confúcio, não tem reclamações a fazer sobre seu trabalho, mas admite que, de fato, o ritmo do seu dia a dia é acelerado. “Não raro temos que trabalhar em casa ou nos finais de semana”, conta o jovem. A instituição é resultado de um convênio entre a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e o governo chinês, e é voltada ao ensino da língua chinesa, à divulgação da cultura e da história da China e ao fortalecimento do intercâmbio cultural e acadêmico entre os dois países.

Apesar das muitas funções, a estrutura, segundo Thiago, é enxuta. “Ou seja, falta tempo de pensar nessas questões mais sociais”, argumenta o jovem. “Então, na medida do possível, eu tento ajudar aqueles que estão próximos de mim, aqui no trabalho, os amigos. Mas eu ainda estou precisando me ajudar muito.” O rapaz conta que se esforça para manter o ambiente no escritório o mais descontraído possível. Para ele, essa é uma forma de humanizar as relações no trabalho. “Até por conta de ser jovem, eu não imponho barreiras”, diz. “Não me ponho numa posição diferente. Então, a gente conversa, inclusive sobre bobagens, em momentos de descontração. E tem as horas sérias também, quando eu preciso vestir a armadura e assumir o papel de quem representa pensamento da empresa.”

Sobre os valores que assinalaria se tivesse sido procurado pela pesquisa do PNUD, o jovem gerente admite: “Autopromoção, realização e poder são importantes para mim. Não seria hipócrita de dizer que não. Poder é uma coisa que enche os olhos de todo mundo. Poder é controle.”

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