Sérgio Dal Sasso: consultor palestrante administração, empreendedorismo e carreiras

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Organização de empresas de A à Z - Gestão e treinamentos

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Preparados para crescer?

Autor: Alexandre Horta
Fonte: GS&MD – Gouvêa de Souza



No início da década de 80 o Brasil, envergado pelo extraordinário aumento do custo de sua dívida externa (consequência da forte puxada dos juros promovido pelo Federal Reserve americano) entrou em uma longa trajetória de crise e passou a conviver com inflação em patamares elevados e com baixo crescimento econômico, relegando seus ideais de crescimento, a partir daí, a um segundo plano.

Durante décadas, o nível de investimento do setor público foi reduzido a uma fração do que seria necessário para minimamente manter a infraestrutura do país em condições de uso, fazendo com que os brasileiros se habituassem a um baixo nível de serviço das concessionárias de serviços públicos (transportes, energia, telecomunicações, etc.).

Tal situação moldou a forma de pensar e de agir das empresas brasileiras, que, lidando com um cenário econômico difícil e com acesso restrito ao mercado de capitais, privilegiaram a flexibilidade, a visão de curto prazo e a postergação de investimentos estruturantes como sua linha de atuação básica. Em circunstâncias onde aplicar ou não os recursos do caixa em um determinado dia poderia representar de 2% ou 3% de diferença no resultado das empresas, a visão financeira e de controle se sobrepôs à da excelência operacional e da expansão dos negócios.

Ainda que tal estratégia tenha sido defensável, considerando a pouca segurança que o cenário econômico proporcionava, sabe-se que “o uso do cachimbo deixa a boca torta” e que, mesmo que o Brasil tenha entrado no século XXI em condições macroeconômicas bastante diversas (dívida externa equacionada, inflação debelada, mecanismos de controle orçamentário mais robustos), os resquícios desse período sobre a cultura das empresas parecem difíceis de ser abandonados.

Particularmente no varejo, que tem experimentado nos últimos anos taxas quase assombrosas de crescimento em suas vendas (considerando o nível médio de crescimento da economia nos últimos 30 anos), essa necessidade de alterar o modelo mental mostra-se mais urgente.

O setor sempre se caracterizou por uma verdadeira “vocação” de controlar despesas e minimizar investimentos que não aqueles voltados à abertura de novas lojas (e mesmo assim, sempre que possível, compartilhando tais investimentos com seus fornecedores).

Esse tipo de filosofia tende a fortalecer os membros em detrimento do corpo e é nos momentos de forte expansão da demanda que as contradições do modelo mais se tornam visíveis, uma vez que a “infraestrutura” das empresas mais é solicitada.

Poucas empresas no segmento de varejo teriam dotado suas áreas de logística e de Tecnologia de Informação com “reservas de energia” suficientes para lidar com a evolução súbita da demanda. Aquelas que não o fizeram precisam conter a avidez do consumidor por meio de uma dose imensa de sacrifícios e de improvisos, muitos deles feitos à custa de uma total absorção do quadro diretivo dessas empresas no operacional, agindo como bombeiros, tentando apagar toda sorte de incêndios que surge quando se opera acima do limite.

Quando o incêndio termina e se realiza a operação de rescaldo, invariavelmente se verifica que as decisões tomadas no calor das circunstâncias, para tentar não desperdiçar as oportunidades do bom momento econômico, custaram caro e muitas vezes cobraram em dobro as economias obtidas quando da decisão de postergar determinados investimentos. Adicionalmente, a imersão no operacional também implicou em deixar de observar a dinâmica de alguns dos concorrentes e, pior, de avaliar mais serenamente alguns sinais de descontentamento dos seus clientes.

Ainda que tal descrição possa parecer uma fábula, a observação do atual momento de muitas empresas de varejo revela que, como toda fábula, ela tem um fundo de verdade. Mais do que isso, possui uma lição moral importante e que convida à reflexão das empresas que acreditam que poderão esperar para primeiro crescer e então investir.

A lógica do capitalismo implica em obter lucro por meio de investimento. Para investir dotando as empresas de uma margem de manobra adequada para lidar com os naturais imprevistos, exige-se delas planejar com horizontes mais largos, abandonando, portanto, crenças por muito tempo arraigadas.

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